É para mim uma felicidade enorme trabalhar numa área que tem a a palavra “amor” no seu nome: “Filos”, que teve origem em “Philia”, no sentido de amor que procura saber…

Sempre vi na filosofia um potencial enorme. Já Sócrates assim pensava, quando deu a sua vida por ela. Mas foi Tales de Mileto que deu os primeiros passos. Dizem que terá sido o primeiro filósofo, embora no seu tempo ainda não se usasse esse nome. Dizem que terá sido Pitágoras o primeiro a usar o nome de filosofia/filósofo. Ouvi dizer que na antiguidade os filósofos eram conhecedores de quase todas as áreas, e que não havia a separação científica que temos hoje. Por exemplo, a psicologia fazia parte da filosofia, assim como a física, a matemática, a economia, etc. Hoje sabemos perfeitamente que cada uma destas áreas exerce o seu trabalho de forma separada. Mas confesso que não sou um especialista em história da antiguidade.

No entanto, sempre gostei de olhar para a história da filosofia como um processo extremamente político. Nunca entendi bem quais deveriam ser os critérios para um filósofo fazer parte de um livro de “História da Filosofia”. Muitos historiadores não colocaram o espanhol Ortega y Gasset. Outros chegaram a dizer que ele foi o responsável por Espanha passar a figurar na história da filosofia. Não sei se é exagero, mas deve haver uma parte de verdade neste reconhecimento. Outra questão que também me intrigava era o facto de a maior parte dos cursos de filosofia não ensinar conteúdos teóricos de filósofos de determinados países, ou seja, um curso de filosofia trabalhava em média autores da Grécia, da Alemanha, de Inglaterra, de França e pouco mais. Sinal dos tempos? Ou será que existem outras razões?

Apesar dos filósofos sempre terem tido preocupações práticas, ou seja, sempre terem refletido e intervido em questões complexas do mundo, a verdade é que só nos anos 70 do século passado é que a dimensão prática da filosofia começou a ganhar outras proporções. Ao longo dos anos, começaram a surgir movimentos sociais organizados, as questões profissionais começaram a ser faladas, foram criadas muitas associações, organizaram-se os primeiros congressos, publicaram-se livros com enorme popularidade, as universidades começaram a organizar várias iniciativas, criaram-se empresas, etc.. Começámos a ouvir falar de novas expressões, como filosofia aplicada, aconselhamento filosófico, filosofia para crianças, filosofia nas organizações e nas empresas, filosofia clínica, coaching filosófico, etc.. Surgiram teses de doutoramento sobre essas “novas” áreas, alguns profissionais lançaram-se no mercado...

E isso foi uma autêntica inovação do mundo atual. Talvez por isso o famoso historiador Harari tenha dito que filósofo é uma profissão de futuro.

A questão pertinente a saber é: será que o clima de crise favorece mais o trabalho dos filósofos? Ou será que é a própria vida que tem dimensões filosóficas e isso exige alguma preparação “escolar” ou então a consulta a um filósofo especializado?

Foi no âmbito desta reflexão que surgiu a ideia de realizar esta 1ª edição do “Philosophy Summit Lisbon/Portugal 2019”, com um formato original: organização criativa, valorização da multidisciplinaridade como forma de abordar os problemas mais difíceis e promoção de contributos inovadores. Foi com este desiderato que desafiámos profissionais de várias áreas para virem filosofar durante um dia inteiro sobre a vida, e sobre as suas práticas, no sentido de tentar perceber onde é que a filosofia está presente e como é que ela é utilizada em prol do desenvolvimento da(s) pessoa(s) e de todas as outras questões consideradas essenciais.